QUEM TEM MEDO DO INFERNO ASTRAL?
Jardel Maia

Ansiedade, tédio, depressão, angústia, turbulência, melancolia, desorientação, histeria, falta de vitalidade, estresse?
“Credo! Isso tá com cara de Inferno Astral! Benza, Deus!”


Muita gente fala e até mesmo você, caro leitor, já deve ter ouvido falar desse tal “inferno”. Popularmente as pessoas usam essa expressão para caracterizar um período meio “nebuloso”, marcado por momentos de prostração, desgaste e, até mesmo, azar. Uma sensação de desânimo e de “não-sei-o-que-fazer” são algumas das queixas que muita gente costuma espalhar aos quatro cantos sempre alguns dias antes do aniversário. Será que ele existe? O que isto significa?

Pois bem, vamos colocando os “pingos nos is”: esse tal “Inferno Astral” não é um “lugar aterrorizante e maligno, incendiado pelo aquecimento global e perdido no cosmo” não, tá? Não custa avisar! “Quem avisa...” (Vocês já sabem!...) Mas tirando o “blá, blá, blá” apropriado e falando sério agora, o chamado “inferno astral” é um tema que gera discussões.
De uma forma ampla e resumida, pode-se dizer que se trata de um PERÍODO, de momentos/dias que antecedem ao aniversário de um indivíduo e esse “período” é marcado por dificuldades, situações desagradáveis, enfim, uma época conturbada. Isso é fato.


Mas muitos adotam definições diferenciadas sobre o assunto. Vocês podem encontrar definições dizendo que o Inferno Astral é quando o Sol está transitando pelo signo anterior ao nosso signo natal. “Hein?”... Em outras palavras: o “inferno astral de Áries”, por exemplo, seria Peixes (que é o signo que precede Áries dentro da ordem astral), o de Touro: Áries... e assim por diante. Há ainda quem defina esse processo delimitando sua duração. Uns dizem que 40 dias antes do seu aniversário vários “eventos anômalos” se manifestam em sua vida; outros afirmam que 30 dias antes você começa a percebê-lo. Essa última é a mais difundida e aceita.

Essa fase também está relacionada a uma natureza individual de isolamento, medos, traumas, batalhas pessoais e outros aspectos inconscientes: “às vezes, nosso pior inimigo surge quando mergulhamos em direção ao nosso próprio inconsciente”. Somos nossos próprios inimigos. Quais são nossas verdadeiras vitórias? Como nos sentimos quando nos deparamos com o que fizemos e atentamos para um futuro incerto e desconhecido?

Todo o processo do estudo da Astrologia é calcado nas idéias de evolução, de ciclos, de estágios da vida que promovem o crescimento global do indivíduo. Por isso, cada aniversário é um marco, um início de um ciclo. E como o tal “você-sabe-quem-é” (parafraseando Harry Potter) precede o nosso “re-nascimento”, podemos dizer então que o seu perfil finaliza um ciclo.

Quando assopramos as velinhas, estamos sempre “re-começando”, “re-nascendo”. Falando em “astrologiquês”, cada Aniversário que fazemos marca um novo ciclo do Sol na vida de um ser humano, ou seja, quando o Sol retorna ao mesmo ponto do Zodíaco que sinalizava no instante do nascimento um ciclo termina e outro recomeça. Cada ciclo que é iniciado no dia do nascimento chama-se Retorno ou Revolução Solar, indicando uma nova etapa de consciência, momentos de fazer ajustes e corrigir o rumo para prosseguir. Cada Aniversário gera um novo mapa, por isso, novos começos.

A nomenclatura “Inferno Astral” empregada por muitas pessoas, não é nada mais e nada menos que esses trinta dias que antecedem a esta “nova perspectiva” de renascimento, quando estamos concluindo o cansado “mais um ano de vida”. Dessa forma, sempre vamos esbarrar nos “términos de etapas”, que surgem como uma derivação natural de qualquer estágio de desenvolvimento, trazendo a desordem, a certeza do não-certo, uma tensão e um esgotamento de uma situação inóspita que clama por possibilidades de ação. Por isso que as pessoas sentem várias mazelas, se queixam das mais diversas desventuras e, muitas vezes, ficam debilitadas.

Quando elas entram em contato com essa realidade, ouvimos inúmeras vezes, o homem atribuir a culpa desses infortúnios a alguma “maligna conjunção astral misteriosa” ou a algum presságio agourento do “Inferno Astral”. Sem querer assumir o papel de “Pollyanna”, devemos enxergar o verdadeiro sentido de nossas crises e aprender com elas. Sei que é difícil, mas pode ser que para isso o “você-sabe-quem” sempre nos bate à porta: para “fecharmos para balanço”, para assumir nossas responsabilidades e não colocar a culpa em alguém ou numa possível conspiração celeste, para entrar em contato com o “não-eu” e ainda para dissolver o ego e reconstruir nossa alma com um pensamento mais otimista.

Segundo Jung, “quando não estamos em contato consciente com o que nos acontece, tudo acaba nos parecendo obra do Destino, não reconhecemos nosso papel na sua manifestação, não nos sentimos responsáveis por nada; mas, se estivermos conscientemente em contato com nossa vida interior, teremos meios de compreender as fases de crescimento pessoal, enfrentá-las e usá-las como grandes oportunidades de desenvolvimento e transformação pessoal”.

Portanto, vale lembrar, para a grande maioria das pessoas que não passa em brancas nuvens essa fase “pré-natal-astrológica”, que o grande temido Inferno Astral só se torna maior quando relutamos em encará-lo, quando nos negamos a querer enxergar nosso eu com intimidade e não escutamos o que ele tem a dizer.

Devemos ter em mente que a essência do Sol (nosso grande protagonista astrológico) se encontra em estado de reabilitação, de fragilidade, assim como nós nessa fase delicada e é, para isso, que todos temos o livre-arbítrio: para refletir e avaliar os períodos de conclusão e escolher o que nos tornará melhor. Espero que, a partir dessas palavras, nos tornemos dispostos a compreender com calma as possíveis turbulências, a refletir um pouco e fazer um exame interno de mais uma etapa terminada, sabendo que ajustes sempre serão feitos; a encarar cada novo ciclo cheio de surpresas com mais disposição ao otimismo, para aprender e aperfeiçoar sempre.

Enfim, mudar o olhar!

"Quanto mais me despedaço, mais fico inteira e serena." [Cecília Meireles]